quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Manoel de Oliveira

Numa curta e excelente entrevista que Manoel de Oliveira deu quando tinha 104 anos, confirma: "a vida é uma derrota". Já suspeitava que ele pensaria assim. Não só porque esse foi um dos temas perseguidos em vários dos seus filmes, mas sobretudo porque a resistência que o trouxe ali (aos 104 anos) apenas poderia ser um privilégio de um realista sem emenda.
Entretanto passaram-se mais dois anos. Quase. E com 106 anos, mais um filme feito, falado e a cores, estreia. Pensará, liberto numa lucidez de quem viveu o tempo necessário para ter certeza de que não poderá haver outra explicação para isto de por aqui andar, que esta foi mais uma derrota, mais uma entrega ao mundo onde não escolheu viver? Não queiramos entender os mistérios por onde se passeia o espírito de um velho nem os labirintos a que a alma humana se pode recolher. Estamos muito longe de viver assim, enredados nos filmes, na criação, do mesmo modo que uma criança cresce ligada ao cordão umbilical de onde foi violentamente desprendida à nascença. Mas é assim que o podemos perceber, partilhando esse lugar no passado onde fomos entregues à vida sem nada podermos contra ela. 
Um filme é como viver: movimento no escuro, memória breve de uma imagem na retina. Manoel de Oliveira sabe, como poucos.